14 de dez. de 2008

O que diria Florence nightingale


Eu sei que tenho permissão de escrever sobre o assunto tratado neste texto. E sei mais ainda que, um dia ou outro estaria envolvido com as palavras que virão nas seguintes linhas. Meus estágios de enfermagem me comoveram e me assustaram de uma forma que jamais esquecerei. Santa casa de misericórdia de Campos dos Goytacazes. Foi neste lugar de nome ilustre que defrontei pela primeira vez o show de amor e horrores dos hospitais. E nele estiveram em minhas mãos pela primeira vez os corpos que precisavam de meus cuidados. Narrando a cena de meus olhos eu diria: O meu sorriso entrava por entre cômodos de cheiros estranhos, corpos estendidos duros por sobre leitos de lençóis nojentos. Andava em cima das minhas pernas a idéia de ser herói e ao tempo em que sentia muito medo. Que a santa tenha tanta misericórdia quanto tem essa casa. Então de certa forma tudo caminhava bem. Quando surge em algumas semanas o PU de Guarus. Lugar onde me senti uma fera capaz absorver conhecimentos. Ainda que meu nariz tivesse de cheirar o odor fétido de uma ferida morta sobre carne viva. Extasiante o poder te ter seringas e agulhas em minhas mãos e poder perfurar músculos e veias de pessoas lesadas. Começo então a sentir uma grande capacidade em mim, e, descobri que ver sangue alheio correr de forma delicada por fora do corpo é prazeroso. Não é só o nosso cérebro que libera nossas emoções, quando se trata de sangue, tudo em nosso corpo o conhece muito bem. Quando o corpo e a mente já me pareciam algo compreensivo dentro desse ramo veio-me em um dia de calor a Liga espírita de campos. Uma organização filantrópica de uma energia e tanto. Mas o seu interior é a confusão mental! Às vezes parece confusão da alma, e tantas das vezes os corredores e grades e o seu temível nome, manicômio. Mas isso é uma coisa que posso deixar de lado nessa instancia. Eu vi nas vozes que cantavam lentamente num idioma familiar e lerdo que, eles já não enxergavam tão pouco como nós. Enxergavam coisas que não podemos enxergar, sentiam coisas que não podemos sentir, eles vivem de apenas um ato, uma sensação um sentimento. Era como se eles repetissem na sua cabeça uma única cena de um filme louco e encenavam-no ao eterno.

Eu ainda vivo em um possível engano, confesso, tenho visões complexas sobre os seres humanos. Às vezes essas visões beiram um distúrbio. Foi no Asilo do Carmo o local onde entrei em conflito comigo, com meus amigos e com os meus pacientes (detalhe, eu odeio o termo cliente dentro de um hospital, coisa mais burguês). Sempre assimilei paisagens bonitas a felicidade, bons pensamentos e cheiros. Mas sobre o caminho que percorria na companhia de meu maldito cigarro e ao som de Man in the mirror, música prazerosa de Michael Jackson. Estava envolto ao cheiro de fezes e sabonete. Eu vi e detestei, homens sábios sendo tratados como bebês. Conheci um senhor de cento e poucos anos. Caralho!! Eu me senti angustiado. Cento e poucos anos de vida! Em vinte e um anos eu já senti vontade de jogar a toalha muitas vezes. Mas ele persistia forte. E me soou a tua voz fraca e forte de centenário dizendo: Filho, pode me pôr no quartinho. Durante a tarde eles sentem muito sono.

Eu tenho muitas experiências pra compartilhar. Mas, porém, vou mantê-las em secreto, como uma forma de lhe estigar. E, assim grito: Só serás um individuo bom quando algo fizer por outro. Visite um asilo, doe toalhas, roupas, amor, carinho, respeito. Vá ao um centro de saúde se informe sobre doação de sangue, se entregue a vida. Se fores mesquinho, não faça por ti e sim por outros. E tenha em conta não espere pelo reino dos céus.

Ádrivan .M. henrique.